Diz-se, em jeito de piada, que para ter um blogue basta ter um computador com ligação à net. A piada não é tanto o facto de ser uma afirmação verdadeira, mas por omitir a questão do conteúdo - a fundamental para quem deseja blogar. Queremos um blogue para quê? O que desejamos escrever? Quais são as áreas do meu interesse? Queremos um blogue para criar uma espécie de diário online, para falar sobre os nossos interesses profissionais, escrever sobre os nossos hobbies, intervir politicamente, escrever sobre música, cinema ou informática? Antes de pensar sequer em abrir um blogue, é necessário que todas estas questões sejam respondidas com bastante clareza.
Depois é uma questão de ver o orçamento que se tem. Na maior parte dos casos nem é uma grande dor de cabeça: a grande maioria dos bloggers começa com os serviços gratuitos e talvez seja essa a melhor solução para si, nem que seja a nível experimental. Afinal de contas, você ainda não sabe como esta aventura vai correr e provavelmente não quererá gastar dinheiro num projecto cujo sucesso está ainda por definir. Se pensa assim faz parte de uma maioria: 70% dos bloggers iniciam-se neste mundo sem objectivos, mais por desporto.

O ano em que surgiu o primeiro blogue do mundo foi repleto de grandes acontecimentos na área da informática.
A Commodore - empresa responsável pelo computador mais vendido da História - acabara de abrir um processo de falência. O Commodore 64 (assim baptizado por causa de uns desopilantes 64k de memória RAM com que vinha equipado), vendera, desde 1983, ano de lançamento, entre 17 e 22 milhões de unidades - nem por isso fora suficiente para evitar a bancarrota.
No mesmo ano a IBM lançou o sistema operativo sucessor do OS/2, o OS/2 Warp - condenado ao fracasso, já se sabe, pois a Microsoft começava já a dominar o mercado com o Windows 3.11, saído também em 1994. Versões beta do Windows 95 (nome de código: Chicago) também já circulavam, embora de forma restrita.
O motor de busca Yahoo foi fundado apenas em Abril. O Google ainda não existia. Tim Bernes-Lee fundou o World Wide Web Consortium. E foi também por essa altura que uma empresa telefónica da Noruega - a Telenor - iniciou um projecto de investigação que dará origem ao browser que hoje todos conhecemos: o Opera.
Foi nesta época distante e cheia de maravilhas arqueológicas - a Intel só lançou a sua grande bomba em 1995, um fantástico Pentium com uma velocidade de relógio de 200mhz - que um jovem estudante de 19 anos inaugurou um site que rapidamente se transformou no modelo que muitos outros iriam depois adoptar: um diário online. O site chamava-se Justin's Link from the Underground.
Justin entrou a matar e não abriu apenas um blogue, mas a sua própria vida: falava das bebedeiras que apanhava, das doenças sexualmente transmissíveis que contraiu, das viagens, amizades, as aulas na faculdade, namoros, do suicídio do pai e até publicava algumas fotos em que aparecia em actividades tão íntimas como urinar na casa de banho. Alguns adoptaram o mesmo modelo intimista, embora sem entrar em tantos excessos. Nos anos que se seguiram, muitos estavam a iniciar diários online.
Durante os 11 anos que se seguiram, Justin manteve o blogue nos mesmos moldes - até que, em meados de Janeiro de 2005, ele faz um vídeo - Dark Night - e lançou-o na Internet. Depois substituiu a sua página de entrada por uma imagem de um coração cravado de pontos de interrogação, deixando apenas um campo de busca para os visitantes pesquisarem os arquivos. O seu blogue actual nada tem a ver com o que fez no passado.
O vídeo é uma espécie de Projecto Blair Witch para doidos varridos - dizem alguns. O testemunho de um blogger à beira de um ataque de nervos - dizem outros. «A Web faz com que não me sinta sozinho, é a minha ligação constante a algo que é maior do que eu... Mas se aquilo que tu fazes e praticas como se fosse uma religião, afasta as pessoas de ti?», pergunta o destroçado Justin.
Justin começou a fazer blogues ainda antes do termo existir, mas quem o criou foi outra pessoa. Em Dezembro de 1997, John Barger, também americano, criou um site chamado Wisdom Weblog e definiu a sua actividade nestes termos: «Um weblog é uma página web onde um weblogger linka outras páginas web que considera interessantes».
Em 1999, um programador da Web chamado Peter Merhol anunciou que passaria a chamar wee-blog a todos os blogues. Com o passar do tempo, passou a usar-se apenas blog e, a quem os fazia, bloggers.
Pode parecer estranho que alguém tome a iniciativa de baptizar uma actividade e seja bem sucedido, mas a verdade é que os blogues ainda eram muito escassos. Em 1998, Jesse Garrett, do blogue Infosift, fez uma primeira recolha na net. Resultado: encontrou 23. Hoje o número de blogues, que só a Technorati segue, ultrapassa os 57 milhões e aumenta a todas as horas.












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