Em 1998 haviam apenas alguns poucos sites do tipo que hoje são identificados como weblogs (termo criado por Jorn Barger em dezembro de 1997). Jesse James Garret, editor do Infosift, começou a compilar uma lista de “outros sites como o dele” à medida em que os encontrava em suas perambulações pela web. Em novembro daquele ano, ele enviou sua lista para Cameron Barrett. Cameron publicou a lista no Camworld, e outras pessoas que mantinham sites similares começaram a lhe enviar suas URLs para que ele as incluísse na lista. Na “página de apenas weblogs” de Jesse estão listados os 23 então conhecidos até o começo de 1999. De repente surgiu uma comunidade. Era fácil ler todos os weblogs na lista de Cameron, e a maioria dos interessados lia. Peter Merholz anunciou no começo de 1999 que ele iria pronunciar “wee-blog”, e isto, inevitavelmente, encurtou o termo para “blog”, sendo o seu editor citado como “blogger”. Neste momento, muitos começaram a pular no bonde em movimento. Mais e mais pessoas começaram a publicar seus próprios weblogs. Eu comecei o meu em abril de 1999. De repente ficou difícil ler todos os weblogs todos os dias, ou até mesmo manter-se em dia dos novos que apareciam. A lista de Cameron cresceu tanto que ele passou a incluir apenas aqueles weblogs que ele mesmo acompanhava. Outros blogueiros fizeram o mesmo. No início de 1999, Brigitte Eaton compilou uma lista de todos os weblogs que ela conhecia e criou o Eatonweb Portal. Brig avaliou todas as submissões com um simples critério: que o site consistisse de entradas datadas. Alguns blogueiros debatiam sobre o que era e o que não era um weblog, mas como o Eatonweb Portal era a lista mais completa de weblogs conhecidos disponível, a definção de Brig prevaleceu. Esse crescimento rápido continuou estável até que em julho de 1999 Pitas, o primeiro serviço gratuito do tipo “publique seu próprio weblog”, apareceu. Em pouco tempo apareceram centenas. Em agosto, a empresa Pyra lançou o Blogger, e também foi lançado o Groksoup, e com a facilidade que esses serviços baseados na web ofereciam, o que antes era apenas um bonde em movimento tornou-se uma grande explosão. No final de 1999 o desenvolvedor de softwares Dave Winer lançou o Edit This Page, e Jeff A. Campbell lançou o Velocinews. Todos esses serviços eram gratuitos, e todos eles eram feitos no intuito de habilitar indivíduos a publicarem seus próprios weblogs de maneira rápida e fácil. Os weblogs originais eram sites direcionados a links. Eram uma mistura, em proporções iguais, de links, comentários, e observações e artigos pessoais. Os weblogs só poderiam ser criados por pessoas que já sabiam como construir um site na web. Um editor de um weblog era alguém que havia aprendido HTML sozinho, por diversão, ou alguém que trabalhava criando sites comerciais durante o dia, e passava suas horas vagas surfando pela web e publicando os seus achados em seus sites pessoais. Eram entusiastas da web. Muitos dos weblogs atuais ainda seguem esse modelo original. Seus editores publicam links para os lugares mais obscuros da web, ou para notícias ou artigos atuais que eles achem que vale a pena. Geralmente esses links são seguidos se um comentário do seu editor. Algum desses editores que tenha um conhecimento mais aprofundado sobre um determinado assunto pode acrescentar fatos adicionais que ele ou ela ache que seja pertinente ao assunto tratado, ou simplesmente dar sua opinião ou ponto de vista sobre o assunto linkado. É comum que esse comentário seja caracterizado por um tom sarcástico ou irreverente. Alguns editores mais experientes conseguem convergir tudo isso em uma ou duas frases, com as quais ele apresenta o link (fazendo deles, como Halcyon me mostrou, pioneiros na arte do microconteúdo). De fato, o formato do weblog tradicional, apresentando apenas um espaço curto no qual o editor escreve sua entrada, encoraja astúcia por parte do escritor. A um comentário maior geralmente é dado seu próprio espaço, em um artigo separado. Estes weblogs oferecem uma filtragem valorosa para seus leitores. A web é, na realidade, pré-surfada para eles. Dentro de uma gama enorme de páginas na web, os editores de weblogs escolhem as mais intrigantes, as mais estúpidas e as mais cativantes. Mas este tipo de weblog é importante por outro motivo, creio eu. No Media Virus, de Douglas Rushkoff, Greg Ruggiero, do Immediast Underground, diz que “A mídia é uma posse corporativa… Ninguém consegue participar da mídia. Trazer isto à tona é o primeiro passo. O segundo é definir a diferença entre o público e a audiência. A audiência é passiva, o público é participativo. Precisamos definir uma mídia que tenha uma orientação ao público.” Ao destacar artigos que possam facilmente ser passados adiante para um típico usuário da web, ocupado demais para fazer algo além de ler sites corporativos, ao buscar artigos de fontes menos conhecidas, e ao prover fatos adicionais, pontos de vista alternativos, e comentários ponderados, os editores de weblogs participam na disseminação e na interpretação das notícias que nos são apresentadas diariamente. Seu sarcasmo e seus comentários mais destemidos nos lembram de questionar os interesses embutidos em nossas fontes de informação e a fidedignidade de repórteres individuais à medida que notícias sobre assuntos diversos são arquivados e podem não ser completamente compreendidos. Os editores de weblogs, às vezes, contextualizam um artigo por justaposição com outro artigo relacionado ao mesmo assunto. Cada artigo, comparado um ao outro, pode ter um significado adicional, ou até mesmo levar o leitor a conclusões contrárias implícitas neles. Seria demais chamar este tipo de weblog de “mídia independente”, mas seus editores, claramente engajados na busca e elucidação dos “fatos” que nos são apresentados diariamente, mostram ao público sobre o que Ruggiero falava. Ao escrever algumas pouas linha diariamente, os ediores de weblog começam a redefinir a mídia como uma luta pública e participativa. Bem. Durante 1999 algo mais aconteceu, e eu acredito que tenha a ver com a introdução do próprio Blogger. Enquanto os weblogs sempre compreendiam uma mistura de links, comentários e observações pessoais, depois da explosão pós-Blogger, um número cada vez maior de weblogs migrou seu foco da web como um todo em favor de algo parecido com um diário. Estes blogues, geralmente atualizados diversas vezes por dia, eram um registro dos pensamentos do blogueiro: algo que foi visto no caminho para o trabalho, observações sobre o fim-de-semana, uma reflexão sobre um ou outro assunto. Links levavam o leitor do site para outro blogue com quem o primeiro estava tendo algum tipo de conversa ou com quem ele tivesse se encontrado na noite anterior, ou para o site de uma banda sujo show ele tivesse assistido. Diálogos inteiros eram travados entre três ou cinco blogues, cada um fazendo referência ao outro em seus pontos de vista ou posições pessoais. Cultos a personalidades surgiram à medida que novos blogues apareceram, com certos nomes aparecendo diariamente em posts ou listados na barra lateral de “outros weblogs” (algo herdado da lista original de Cam). Era, e é, fascinante ver como aqueles blogues liam uns aos outros, tendo sua barra lateral como uma afirmação da tribo que eles gostariam de pertencer. Por que a mudança? Por que tantos? Eu sempre suspeitei que muito da popularidade deste formato veio de um desejo simples de emular sites como os de Ev e Meg, as cabeças por trás da Pyra. Como criadores do Blogger, seus blogues charmosos e simpáticos eram a maior divulgação para o produto mais popular de sua empresa. Mais que isso, o próprio Blogger não faz nenhuma restrição com relação ao conteúdo que for publicado. Sua interface, acessível de qualquer navegador, consiste de uma caixa de formulário vazia na qual o blogueiro pode digitar… qualquer coisa, desde um pensamento, uma resenha mais elaborada, ou alguma recordação da infância. Com um simples clique, o Blogger vai publicar esta… qualquer coisa… no site do escritor, arquivar no seu devido lugar, e apresentar o escritor outra caixa de formulário vazia, pronta para ser preenchida. Compare isto com a interface do Metafilter, um weblog comunitário muito popular. Aqui, o escritor é apresentado a três caixas de formulário: a primeira para a URL do site em referência, a segunda para o título da entrada, e a terceira para qualquer comentário que o escritor queira acrescentar. A interface do Metafilter induz o escritor a contribuir com um link e acrescentar um comentário. O Blogger não faz essa exigência. O Blogger facilita a escrita de um pensamento ou de uma observação, tanto que muitas pessoas não se sentem inclinadas a criar um link e escrever algo em torno dele. É essa interface livre, combinada com a facilidade absoluta de uso que tem, em minha opinião, feito mais do que impelir a mudança de um weblog do tipo filtro para um blogue diário, mais do que qualquer outro fator. E esta mudança aconteceu mesmo. Buscar um weblog do tipo filtro dentre os milhares listados no weblogs.com, no Eatonweb Portal, ou no diretório do Blogger, pode ser uma tarefa difícil. Os novatos aparentam mais direcionar seus blogues a diários do que o estilo filtro. Certamente ambos estilos ainda existem, e certamente o weblog tem sido sempre um formato infinitamente maleável. Mas o influxo de blogues mudou a definição de weblogs, de “uma lista de links com comentários pessoais” para “um site atualizado periodicamente, com o novo material sendo postado no topo da página”. Eu realmente gostaria que existisse outro termo para descrever o weblog do estilo filtro, que o diferenciasse claramente do blogue. Seguindo o princípio da divulgação comercial, isto facilitaria muito ao aventureiro encontrar o tipo de weblog que mais lhe agrada. Então, o que podemos dizer sobre o weblog? Será que interessa alguém que não produza um? Bem, eu acredito que deveria. Um weblog do estilo filtro oferece muitas vantagens para seus leitores. Revela aspectos de uma web não imaginada para aqueles que não têm tempo para surfar. Um ser humano inteligente filtra dentre a massa de informaões empacotadas para o consumo diário e escolhe o mais interessante, importante, escondido e inesperado. Este ser humano pode prover informação adicional àquela que a mídia corporativa provê, expôr a falácia de um argumento, e talvez revelar algum detalhe omitido. Porque um editor de weblog pode comentar livremente sobre o que ele acha, uma simples leitura revela seus gostos pessoais, fazendo desta pessoa uma fonte previsível. Adiante, isto nos permite ter uma visão crítica tanto sobre a informação quanto sobre o comentário provido. Sua aitude irreverente desafia a veracidade dos “fatos” apresentados diariamente pelas autoridades. Pouco depois de eu começar a produzir o Rebecca’s Pocket, notei dois efeitos colaterais que eu não esperava. Primeiro, descobri meus próprios interesses. Eu achava que sabia o que me interessava, mas depois de linkar estórias durante alguns meses, pude ver que eu era muito mais interessada em ciências, arqueologia, e questões de injustiça do que eu imaginava. Mais importante, passei a dar mais valor ao meu próprio ponto de vista. Ao compor o texto dos meus links todos os dias eu considerava cuidadosamente minhas próprias opiniões e idéias, e comecei a sentir que minha perspectiva era única e importante. Esta experiência profunda pode ser vivenciada mais puramente dentro do weblog estilo diário. Ao faltar com um foco no mundo exterior, o blogueiro é compelido a compartilhar o seu mundo com quem quer que esteja lendo. Ele pode refletir sobre um livro que está lendo, ou sobre o comportamento de alguém dentro do ônibus. Ele pode descrever uma flor que viu crescer por entre uma rachadura no passeio para o trabalho. Ou ele pode simplesmente tecer anotações sobre sua vida: como é o trabalho, o que comeu no jantar, o que achou sobre um filme. Estes fragmentos, colados juntos ao longo de meses, pode mostrar uma vista inesperada de como é ser um indivíduo em particular, num lugar em particular, em uma época em particular. O blogueiro, em virtude de simplesmente escrever o que quer que lhe dê na telha, será confrontado com suas próprias idéias e opiniões. Ao blogar todo dia, ele se tornará um escritor mais confiante. Uma comunidade de 100 ou 20 ou 3 pessoas pode surgir em torno de seus registros pessoais diários. Ao se deparar com vozes amigas, ele pode ganhar mais confiança de sua visão do mundo. Ele pode começar a experimentar formas mais complexas de escrita, pode brincar com haiku, ou começar um projeto criativo – que ele poderia ter desprezado por achar inconseqüente ou que duvidasse que pudesse completar alguns meses antes. Ao enunciar suas opiniões diariamente, esta nova consciência de sua vida interior pode se tornar uma crença em sua própria perspectiva. Suas próprias reações – a um poema, a outras pessoas, e sim, à mídia – terá mais peso sobre ele. Acostumado a expressar seus pensamentos em seu site, ele terá mais facilidade de articular suas opiniões para si mesmo e para outros. Ele se tornará mais impaciente por esperar para ver o que outros acham antes que ele tome alguma decisão, e partirá por agir de acordo com sua própria consciência. Ele se tornará, idealmente, menos reflexivo e mais reflectivo, e encontrará em suas próprias opiniões e idéias algo que valha consideração. Seus leitores se lembrarão de um incidente em sua infância enquanto o blogueiro relata sua memória. Eles deverão olhar mais cuidadosamente outros passageiros de um trem depois que o blogueiro relatar suas impressões sobre um colega de transporte. Eles clicarão por entre blogues e analizarão o ponto de vista de cada blogueiro dentro de uma conversa entre os blogues, e tirar suas próprias conclusões sobre o assunto proposto. Ao ler as opiniões de pessoas comuns, eles irão prontamente questionar e avaliar o que está sendo dito. Ao fazer isso, eles podem começar sua própria jornada de auto-descoberta e auto-afirmaçção intelectual. A promessa da web é a de que todos podem publicar, que mil vozes podem florescer, comunicar, conectar. A verdade era a que apenas aquelas pessoas que soubessem como programar uma página na web podiam fazr soar suas vozes. Blogger, Pitas, e todas as outras ferramentas, deram às pessoas com pouco ou nenhum conhecimento de HTML a habilidade de publicar na wewb: de pontificar, relembrar, sonhar e discutir em público, tão facilmente quanto eles podiam enviar uma mensagem instantânea. Não podemos comprar a própria criação da WWW com da disponibilidade da tecnologia livre que permite que qualquer um com um navegador da web que possa expressar sua visão única e irreprodutiva do resto do mundo, podemos? Em setembro de 2000 haviam milhares de weblogs: orientados por assuntos, pontos de vista alternativos, estudos astutos da condição humana refletida na mídia de massa, pequenos diários, links para o absurdo, e cadernos livres de idéias. Os weblogs tradicionais criaram um serviço de filtragem valioso, e providenciaram ferramentas para uma avaliação mais crítica da informação disponível na web. Blogues com um estilo livre são apenas uma demonstração de auto-expressão. Cada qual é uma evidência da mudança de uma época onde a informação era cuidadosamente controlada providenciada pelas autoridades (e artistas), para uma oportunidade sem precedentes de expressão individual em escala mundial. Cada tipo de weblog dá poder a indivíduos em muitos níveis. Então por que cada lista de favoritos não contém uns cinco weblogs? No início de 1999 parecia realmente que a essa altura todos deveriam ter. Houve um pouco de atenção da mídia e novos weblogs eram criados a cada dia. Era uma comunidade pequena e que crescia rápido e parecia que estava à bera de um conhecimento maior de massas. Talvez a tsunami de novos weblogs criados no surgimento do Pitas e do Blogger esmagou o movimento antes que ele pudesse alcançar um ponto crítico. O crescimento repentino exponencial da comunidade tornou ela própria inavegável. Os weblogs, antes filtros da web, de repente tornaram-se tão numerosos que se confundiam com a própria web. Algumas matérias apresentavam os weblogs como a próxima grande moda. Mas ao leitor comum, provavelmente clicando pelo Eatonweb Portal, encontrava a si mesmo diante de uma lista alfabética de milhares de weblogs. Não sabendo por onde começar, ele voltava para o ABCnews.com. Não tenho uma resposta. Em tempos de hoje, a simples página de um turco chamado Mahir pode varrer a web em poucos dias. Mas a verdade absoluta é que a mídia corporativa e comercial, e entidades governamentais possuem a maior parte do imobiliário. A Dell gerencia mais páginas na web do que todos os weblogs juntos. A máquina de relações públicas da Sprite tem mais horas trabalhadas na disseminação de sua mensagem - “Obedeça sua sede” - do que todas as horas trabalhadas em todos os weblogs vivos. Nossa força – que cada um de nós fale como uma voz única e com um ponto de vista individual – é, dentro das mensagens cuidadosamente orquestradas no mundo, designadas para distrair e manipular, uma curiosidade. Nós estamos, simplesmente, em menor número. E, realmente, o que mudará se nós colocaramos weblogs em todas as listas de favoritos? À medida que somos crescentemente bombardeados com informações vindas de nossos computadores, handhelds, quiosques, e agora nossas roupas, a necessidade de filtros confiáveis se tornará cada vez mais iminente. À medida que interesses corporativos enxertarem um controle cada vez mais apertado sobre a nformação, ou sobre até mesmo a arte, uma avaliação crítica é mais indispensável do que nunca. À medida que propagandas comerciais forem coladas em cascas de banana, anexadas a copos descartáveis, e interromperem nossas transações bancárias, nós precisamos, urgentemente, cultivar formas de auto-expressão para contrabalancear nossa dormência defensiva e nos lembrar de como é sermos humanos. Nós estamos sendo golpeados por uma quantidade de informações diversas, e a menos que criemos tempo e espaço sobre o qual pudermos refletir, seremos deixados apenas com nossas próprias reações passivas. Eu acredito firmemente no poder dos weblogs de transformar ambos escritores e leitores, de “audiência” em “público”, e de “consumidor” a “criador”. Os weblogs não são uma panacéia para os terríveis efeitos em uma cultura saturada da mídia, mas acredito que sejam um antídoto.
Texto retirado da página do Thiago Pedrosa.








1 comentário:
O link correto é esse:
http://thiagopedrosa.com/artigos/historia-dos-weblogs/
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